Você conhece o Mixirica? Conheça o brasileiro Marcelo Florentino Soares que fez história ao cruzar à Rússia de bicicleta na prova de ciclismo mais longa do mundo.
Por André T Piva
Marcelo Florentino Soares, o Mixirica
Marcelo Florentino Soares, mais conhecido pelo apelido de Mixirica, é o símbolo da garra do povo brasileiro. Em busca de um sonho, com fé, persistência e muita luta, ele foi lá e fez.
O ciclista completou a prova ciclística por etapas mais longa do mundo, Red Bull Trans-Siberian Extreme. E ainda terminou em terceiro lugar os 9.287km entre Moscou à Vladivostok na Rússia, distância absurda que equivale três vezes mais do que o Tour de France.
Mixirica, que ganhou esse apelido quando participava das primeiras competições de mountain bike no início dos anos 90 depois de ser “flagrado” duas vezes com a fruta cítrica nas corridas (uma vez com uma sacola cheia delas e outra vez com mixiricas no bolso que saíram voando depois de um tombo), mostrou toda sua humildade e força de vontade para cruzar o país com a maior área do planeta, passando por lugares inóspitos do planeta, como Lago Baikal, Montes Urais e próximo das fronteiras asiáticas da Mongólia e China, nesta competição que percorre a mítica rota ferroviaria transiberiana.
Um Estranho no Ninho
O brasileiro era o “estranho no ninho” quando o assunto era pedalar no “verão” russo com dias com temperatura de apenas 8º Celsius. O novo herói do ciclismo nacional, no entanto, chegou bem credenciado para o desafio após conquistar o recorde da travessia de bike mais rápida do Brasil entre o Monte Caburaí ao Chuí. Na ocasião, o ciclista cortou o país em 57 dias, pedalando 10.332,30 km, passando por cerca de 595 municípios de 17 estados brasileiros, numa média de 18 horas diárias de pedalada.
“Depois do recorde no Brasil, meu objetivo era participar de eventos emblemáticos, como a Paris-Brest-Paris e a Race Across América. No entanto só consegui organizar os apoios para as despesas neste ano e felizmente deu tudo certo para participar da Trans-Siberian Extreme,”
Contou Mixirica por telefone já em São Paulo (SP), após retornar da maratona de viagens de 35 horas de voo, passando por 4 aviões e ter todas as bagagens extraviadas.
“Ainda estou com os tendões inchados, mas estou bem recuperado,”
Acrescentou Mixirica que recebeu uma recepção calorosa dos amigos e fãs preparada na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista.
Enquanto Mixirica fazia a missão de resgatar todos os equipamentos, o esportista concedeu uma entrevista.
1- Como ficou sabendo da prova Red Bull Trans-Siberian Extreme e se preparou para o desafio?
Em 2015, fiz o desafio Monte Caburai, então queria fazer todas estas provas malucas pelo mundo e fiquei sabendo da Red Bull Trans-Siberian Extrme, mas não foi possível participar naquele ano. Agora consegui participar. Fiz minha inscrição, mas depois a organização ficou sabendo do recorde e me convidou. Me preparei fazendo provas Audax (desafios de 200, 300, 400 e 600km), organizado pelo Rafael Dias.
2 – Como era a comunicação entre os atletas internacionais, já que tratou se de um seleto grupo de 10 ciclistas?
Na verdade não existiu muita comunicação, somente a linguagem universal do ciclismo.
3- Como funcionava o dia a dia durante as etapas e sua alimentação?
Eu comia atum, chocolates, pão, macarrão e tomava água, Coca-Cola e Red Bull. A rotina era igual a qualquer prova ciclística por etapa ou Tour de France (Carros da organização acompanhando, alimentação e hidratação durante as provas e hospedagem em hotéis no final das etapas).
4- Como foi o desafio de pedalar por lugares tão extremos do planeta, como fronteiras como a Mongólia, China, lago Baikal, Monte Urais ?
Fiquei muito ansioso em chegar na Mongólia por causa das histórias dos seus guerreiros do passado. Mais na verdade nem olhava para o lado, só olhava para a estrada cruel na minha frente.
5- Qual foi o momento mais divertido ou curioso?
Fiquei encantado com a crianças 5 e 6 anos andando com a gente num pelotão com todo tipo de bicicleta. Além das pessoas mais velhas subindo e descendo, sempre pedalando com velocidade. Isso me marcou, pois fique impressionado. Quando eu tinha 20 anos de idade eu ia andar no pelotão e caia nos primeiros quilômetros.
6 – Qual foi o momento mais difícil?
Houve um momento – na 11ª etapa – que fiquei muito mal e sem forças. Não conseguia nem levantar o braço. Fui até o ciclista alemão da categoria de duplas lá na frente e pedi para ele em inglês ir devagar na subida. Aí ele acelerou mais ainda.
7- Na 12ª etapa com mais de 1.300km vocês enfrentaram condições climáticas severas, o que passava na sua cabeça naquele momento?
Eu rezava o Pai Nosso e pedia para nossa Senhora Aparecida me ajudar a cada quilômetro.
8- Qual a sensação de ter completado uma prova que equivale três vezes a distância do Tour de France?
Fiquei muito emocionado chorei muito .muito feliz por ter conseguido passar por uma prova tão extrema como está e cruel em todos os sentidos.
9- O que guardou com essa experiência?
Eu aprendi de uma vez por todas .e serve para toda a humanidade: tenha fé no seus sonhos que com certeza um dia será realizado.
10- Quem te ajudou neste desafio?
Quero agradecer minha mãe Josefa, meu pai Amauri, meus irmãos Marcos; Paulinho, Patrícia, Neusa Telheiro, Pedrinho, Renato Pezzela o “Japa”; Ciclobr, Minnie Takeda; Roberta Godinho e o meu anjo na Rússia, Sérgio Paz. E toda a equipe do Red Bull Trans-Siberian Extreme e ao Paul Bruck.
11 – E como começou seu encanto pela bicicleta?
Perto da minha casa tinha um pasto de bodes e vi uma bicicleta coberta pelo mato. Eu tinha 9 anos e pedi para minha mãe comprar aquela bike, mas a bike ficou um ano parada pois não tinha como pagar os consertos na bicicletaria. Era uma Monareta e passei um ano sonhando com esta bicicleta. Quando completei 10 anos, ainda não sabia pedalar. Depois de uma semana tentando no quintal da dona Mara eu consegui aprender sozinho a pedalar. Alguns anos depois, com 12 anos, já trabalhando no mercadinho, dei entrada nas prestações para comprar minha primeira bike nova, era uma Caloi Cross geração amarela com número na frente, espuminhas no quadro… aos domingos faltava nas aulas de primeira comunhão para ir para pista de BMX que tinha dentro da fábrica da Caloi, que ficava uns 2 quilômetros de casa. Depois comecei a ir mais longe até o parque do Ibirapuera, que ficava uns 20km… Depois roubaram minha bike e só fui conseguir comprar outra anos mais tarde, uma Caloi Cruiser. Aí passei a fazer grandes aventuras, como ir para Santos por Embu Guaçu, pois antigamente dava para descer a serra de bike. Depois fiqui sabendo de uma corrida de bicicletas em 89 e nunca mais parei… São muitas histórias.
Marcelo Florentino Soares completou a prova com louvor em mais de 300 horas de pedal, superando muita dor, dificuldade, adversidades financeiras, mas no final, veio a emoção e a consagração. O Mixirica é um cara que contagia por sua simplicidade e ousadia. Um ciclista que ama a bicicleta.
Fonte: Redbull